Psicologia inversa? Um pouco, mas não apenas isso. Se já começou a ler, então peço que ponha sua conta em risco.
Prepare-se para uma contradição. Sei que escrevi, gastei meu tempo, atenção e meu português, mas você não precisa ler esta mensagem. Só que espero profundamente que você não vá embora agora... Sim, gosto de jogos perigosos. Desafiá-lo a ir embora e desejar profundamente que você fique. Mas faço isso porque sei que posso contar com você - conto literalmente, e nos dedos, os indivíduos do meu seleto grupo de leitores. Então se ainda está aqui, se acostume com esta palavra: CONTRADIÇÃO, pois este texto pode até ser útil agora, mas no fim te desafio que olhe-o com desprezo. E se possível, com um pouco de nojo, daqueles de dizer "Argh!". Como posso aconselhar isso com um texto voltado para a espiritualidade? Eis aí o seu segundo desafio.
O homem... não peraí, preciso de algo um pouco mais abrangente! A humanidade... parece perfeito, ok, posso começar com isso. A humanidade, gente que vem, gente que vai. Quem vem passa pouco tempo, quem vai nunca mais volta, mas há as exceções, alguns não vão por completo, ficam, mas ficam só o nome, as vezes o nome fica porque saiu algo de interessante de sua boca, se coisas más ou boas, dependendo da importância, sempre ficam. As vezes ficam o nome, o que saiu da boca, e o que se fez, se bom ou ruim, fez ta feito, ficou também! Ok, agora pergunta clichê: O que você deixará para a posteridade? Olha muita gente não deixa nada, fique tranquilo se é isso que você também quer deixar. Mas se você quer deixar alguma coisa, se pretende que algo seu fique registrado na ata da humanidade, gostaria de lhe dar uma dica: Não se preocupe com isso!
Falei pra se acostumar com a bendita contradição. Então, o que quero com isso dizer? Aquele que quer ser lembrado não pode querer ser lembrado! Tá, como assim? Não, não será uma aula sobre a humildade. Também não será um convite para plantar uma árvore discretamente, ou muito menos uma doação do seu décimo terceiro para uma instituição de caridade - se bem que... Mas enfim, será uma forma de dizer que o que fazemos agora, nesse exato momento é inútil, é raso, é pouco comparado as exigências que uma marca na história necessita. Ser ou não ser nunca foi uma boa questão. Fazer ou não fazer, talvez seja uma questão melhor, que me perdoe Shakespeare. Sim, mas fazer o que?
Cheguei no quinto parágrafo e digo abertamente que você ainda não sabe sobre o que está lendo... bem, pior ainda vai ser descobrir que não tenho nenhuma solução aqui a qual você mesmo já não tenha passado por cima. Sim, quero dizer na sua cara que você passou por cima de muitas soluções e ainda teve curiosidade de procurar algumas dessas soluções aqui. Deixar você confuso no meu quinto parágrafo é o meu papel hoje, aliás, fiz o quinto parágrafo porque achei que tinha te enrolado pouco. Ei, psiu! Espere, vai perder a melhor parte se for embora agora.
O que quero com isso? Quero falar sobre a inutilidade do discurso. Quero falar sobre o quanto as palavras hoje entram num ouvido e saem pelo outro. Ou entram nos olhos e escorrem pelo nariz, sem criar raiz em nossos neurônios. Quero alertá-lo sobre o fato de que enquanto ouvimos discursos, ou lemos sermões, pessoas precisam da nossa simples atenção. Em suma, quero dizer que chegamos ao século XXI e ainda achamos que precisamos de discursos... Conservamos a raquítica ilusão de que mais um discurso resolverá de uma vez por todas a nossa vida.
Preciso falar que Jesus instituiu os dois maiores mandamentos não com palavras, mas com ações? "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes." (Mc 12:30-31). Assim disse. Disse? Me perdoe! Assim fez! Qual o nível de realidade essas palavras existem em nós? Acho que não há pecado maior do que fazer da palavra de Deus, apenas palavra.
Não, não simpatize com este texto. Chegou a hora de agirmos e sair da teoria. Nós esquecemos que palavras perfeitas como amor, perdão, paciência, generosidade, humildade, etc, etc, etc... existem para ilustrar o que existe aqui fora. Existe? Desejo o fim do discurso? Não... infelizmente não posso desejar isso. Não posso e não devo, até eu precisei dele hoje aqui.
"Enquanto palavras forem sempre a solução para o mundo, problemas serão sempre problemas para o mundo." Frase bonita né? Eu que fiz! Do que ela ou todo esse texto serve? Nada. Enquanto forem apenas palavras. Aliás, esqueça a posteridade. Faça com que suas atitudes sejam o mais eficaz discurso que mude o mundo em sua volta. O futuro cuidará de si mesmo.
Ainda bem, já chegou a hora de dizer "Argh!". Bem alto!
Difícil dizer né? Adoramos discursos!